Hildegard Burjan
Hildegard Burjan nasceu no dia 30 de janeiro de 1883, em Görlitz, na Alemanha. Foi a segunda filha de pais judeus, de classe média alta que não praticavam nenhuma religião.
Infância
Hildegard teve uma infância tranquila. Aos três anos gostava de colocar em volta de si um círculo de almofadas, bonecas e outros objetos, simulando assim uma plateia. Depois a pequenina colocava-se diante de seu público para contar estórias e discursar. Isso era curioso porque a menina ainda nunca havia estado em locais onde pudesse ter presenciado isso. Aos seis anos viu da janela de seu quarto, monjas rezando no jardim de um mosteiro vizinho à sua casa. Queria saber quem eram e o que faziam. A mãe respondeu que eram monjas e que estavam rezando para seu Deus. Então falou: “Se essas mulheres tão bonitas estão rezando para Deus, então Deus deve ser bonito e como deve ser bonito quando se pode rezar a Deus!” Fez ainda muitas perguntas sobre Deus, mas a mãe retirou-a da janela dizendo que sobre isso poderia ler nos livros mais tarde. Expressou chorando: “Deus, eu também queria rezar!”
Uma jovem que buscava grandes ideais
Aos 16 anos escreveu na primeira página de seu diário este pensamento de Lindenberg:
Hildegard não se preocupava com moda e coisas comuns à sua idade, mas interessava-se muito pelo estudo, pela formação de sua personalidade.
Estudante talentosa e solidária
Não era comum em seu tempo que uma moça frequentasse a universidade, porém ela, decididamente inscreveu-se na Universidade de Zurique, no curso de Filosofia, chegando ao doutorado.
No ambiente universitário logo percebeu que alguns colegas tinham dificuldades para pagar seus estudos. Sensibilizada fundou então um círculo de ajuda a estudantes com dificuldades financeiras. Ela mesma fazia economia, indo a pé para a Universidade, a fim de colaborar com a caixa de ajuda.
Seu encontro com Deus
Em sua juventude Hildegard experimentou um ardente desejo de encontrar o verdadeiro sentido da vida. Buscava uma resposta e nas horas de solidão repetia com insistência: “Deus, se tu existes, manifesta-te a mim”.
Alguns professores do Curso de Filosofia que estavam prestes a tornarem-se católicos, exerceram grande influência em sua busca pela verdade. Conheceu a fundo a doutrina católica e sentia grande interesse por ela, mas ainda faltava-lhe a graça da fé.
Aos 25 anos, formada em Filosofia, casada com o engenheiro Alexandre Burjan, Hildegard encontra-se muito doente e é internada num hospital católico. Lá permanece por alguns meses em tratamento, passando por diversas cirurgias. No hospital, é atendida pelas Irmãs de São Carlos Borromeu que ali trabalhavam. Fascinou-lhe o testemunho daquelas irmãs e concluiu: “Isto que as Irmãs fazem, um ser humano, apoiado só nas suas próprias forças é incapaz de realizar”.
Convenceu-se, então, da existência de Deus e nele passou a acreditar ardentemente. Era muito grave seu estado de saúde e os médicos declararam que já haviam esgotado todos os recursos que a Medicina dispunha. Para surpresa de todos, na manhã seguinte, um Domingo de Páscoa, Hildegard estava curada, de forma inexplicável.
Ela compreendeu que se tratava de um milagre, através do qual Deus quis revelar-se a ela, de forma ainda mais visível. Ali experimentou, no mais íntimo de seu ser, o amor gratuito e misericordioso de Deus. Impressionada com essa manifestação divina, exclamou: “Esta segunda e nova vida deve pertencer unicamente a Deus”. Pediu o Batismo e decididamente expressou: “Quero doar-me, consumir minha vida no amor aos irmãos”.
Mãe corajosa
Pouco tempo depois de ter recuperado a saúde ficou grávida. Devido às diversas cirurgias, seu corpo não tinha condições de levar adiante uma gravidez.
Os médicos aconselharam que abortasse, pois corria serio risco de morte. Corajosamente Hildegard tomou a firme decisão: “Nada pode me convencer a permitir isso. Mesmo que eu tenha que morrer, então, seja feita a vontade de Deus”. Assim, deu à luz a uma filha, à qual chamou de Isabel, em honra a Santa Isabel, a Santa da Caridade.
Mulher de grande atuação social
Hildegard distinguia-se pelo espírito de solidariedade, pela sensibilidade diante do sofrimento dos mais necessitados, mas, sobretudo, pela sua capacidade de buscar as raízes dos problemas sociais, não se contentando apenas em dar uma ajuda eventual, mas sim em resolver o problema pela raiz.
Sua capacidade empreendedora e seu espírito de liderança foram sem dúvida um grande diferencial no período da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Durante a guerra articulou inúmeras campanhas para socorrer órfãos e viúvas. Se preocupou com a mulher operária, mãe de numerosos filhos para sustentar. A maioria costurava em casa para grandes firmas, pelas quais eram exploradas. Organizou-as em associações a fim de que trabalhassem juntas, em salas aquecidas durante o inverno. As peças confeccionadas passaram a ter o valor justo e as operárias tiveram seus direitos respeitados. Para os famintos organizou a “Mesa de Santa Isabel”, onde muitas pessoas podiam alimentar-se de sopa quentinha, numa sala aquecida. Além disso, conseguiu uma maneira mais barata de comprar alimentos, uma espécie de mercado popular.
Tinha grande capacidade de atrair voluntários para os diversos trabalhos sociais. Promovia chás beneficentes, convidava as damas da sociedade e lá fazia calorosas palestras, conscientizando-as das necessidades e sofrimentos dos mais desfavorecidos e sensibilizando-as para que dedicassem a eles parte de seu tempo.
Para Hildegard não havia barreira entre pobres e ricos. Ela sabia fazer a ponte e unir a todos na mesma causa: a caridade social, amor que eleva e que liberta.
Atuação Política
A pedido das autoridades de Viena, sobretudo da Igreja, ela entrou na política, sendo, em 1919, a única mulher deputada federal no Parlamento. Sem omitir sua fé e os princípios cristãos, lutou pela justiça social conseguindo leis em favor das operárias, empregadas domésticas e pela erradicação do trabalho infantil.
Tinha como objetivo o fortalecimento da família e a melhoria das condições de vida das mulheres, sobre as quais, pesa o cuidado e a educação dos filhos.
Uma mulher de oração!
Em meio a tantas atividades sociais e políticas, compromissos de esposa, mãe, fundadora de associações das mulheres operárias. Hildegard nos deixa o testemunho de alguém que mergulha profundamente na oração, no encontro com Deus: “Trago sempre comigo folhas soltas do Breviário e rezo muitas vezes nas lanchonetes ou enquanto o meu marido lê o jornal”. “As horas mais felizes para mim, são á noite, quando rezo o Breviário”.
Pedia que a acordassem cedo para não perder a missa diária. Antes das sessões do parlamento passava na Igreja para um tempo de adoração ao Santíssimo. A Eucaristia foi para ela a fonte que a fortalecia constantemente e onde encontrava a solução para todos os problemas: “É assim que Deus me dá as maiores graças, assim, muitas coisas se esclarecem, os problemas mais complicados se solucionam. Fortalecida, disponho-me a servir”.
Fundadora de uma comunidade religiosa
Na realização de sua missão junto aos mais pobres, contava sempre com a presença de muitas pessoas voluntárias, sobretudo, de mulheres generosas que não mediam esforços para ajudar. Mas em seu coração brotava um grande sonho: a fundação de uma comunidade de mulheres consagradas a Deus, que pudessem ser missionárias da caridade aos mais necessitados. E assim, em 1919, fundou a comunidade de vida apostólica – Caridade Social. A elas confiou esta linda missão: Tornar presente o amor misericordioso de Deus através do serviço social.
Em 11 de junho de 1933, Hildegard partiu para a Casa do Pai. Suas últimas palavras foram: “Jesus, meu querido Jesus, torna bons todos os homens, a fim de que possas encontrar neles o teu agrado. Faze que sua única riqueza sejas Tu, somente Tu”.
Hoje, além da Áustria, as Irmãs da Caridade Social estão presentes em vários países, inclusive no Brasil, dando continuidade ao legado de sua fundadora, a Beata Hildegard Burjan.
Beatificação
No dia 31 de janeiro de 2012, Hildegard Burjan foi beatificada. A cerimônia de beatificação aconteceu na Catedral de Santo Estevão em Viena, Áustria.
Foi uma festa solene com a presença de muitos bispos, sacerdotes, religiosas, fiéis e autoridades.
Sua beatificação foi um grande sinal do amor de Deus que se revela aos simples, aos que a Ele procuram e Nele confiam, tornando-se dom para os outros.
Assim foi a vida de Hildegard Burjan: esposa, mãe, politica, pioneira do serviço social na Áustria, fundadora da Caridade Social e testemunho de amor aos irmãos, principalmente os mais pobres.